meus tempos de jornalista

Quando guri, eu queria ser cineasta. Como a faculdade de Cinema ainda não existia, peguei o curso mais próximo: Jornalismo. 

Nunca fui um aluno padrão. Não tinha o mínimo interesse em ser um jornalista “clássico”, narrador anônimo de fatos. Meu sonho era ir para a telona ou, alternativamente, fazer entretenimento.

Nesse “plano B”, meus modelos eram o Chacrinha, o Sílvio Santos, o João Kleber. 

Nas salas de aula da PUC, em Porto Alegre, descobri talentos ocultos: eu sabia desenhar, diagramar, criar coisas gráficas, e acabei apaixonando-me de vez pela mídia impressa. 

Comecei a escrever publicamente em 2003, nas páginas de um antigo jornal semanário da cidade de Viamão chamado “A Tribuna”.

O dono era um velho jornalista, chamado José Paulo Correa Lopes, que escrevia umas coisas polêmicas e bagunçava a política local. Grande figura.

Foi através dele que a polêmica fisgou meu imaginário. Ela dava visibilidade, era um caminho pelo qual se podia ter algum tipo de relevância no debate público, nos rumos da cartilogência.

Eu logo pensei que poderia fazer a mesma coisa e, em 2004, montei um jornal local chamado “A Cidade”.

A capa da primeira edição do “A Cidade”, em preto e branco, e uma capa colorida típica da fase mais forte do jornal. Ambas ainda muito cruas. Esse jornal na verdade foi pura experimentação.

O “A Cidade” foi um desastre. Me trouxe algum reconhecimento, sim, porque tinha uma linha editorial muito louca… mas comercialmente, afundou como uma pedra em menos de um ano.

Em 2006, falido, sem opção e já com a minha primeira filha nascida, fui trabalhar com outras coisas para pagar as contas.

Para não queria largar de mão o jornalismo, segui escrevendo colunas em outros periódicos locais. Passei pelas páginas de todos os que existiram na cidade naquela década.

Meu objetivo era encontrar um lugar ao sol, estourar.

Eu fui também, aos poucos, me aproximando da internet, muito por conta do meu amigo Sílvio Monteiro, criador do Viamão Hoje (um dos primeiros portais de notícias do Rio Grande do Sul, inaugurado lá no final dos anos 90).

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Aí, em 2007, criei um blog que logo firmou-se como um dos sites mais acessados da cidade e me garantiu um lugar na história da primeira geração de comunicadores da web em Viamão.

Naqueles tempos, a maioria dos internatas usava conexão discada e o público virtual na região era bem escasso. Tudo era ainda difícil, precário.

Em compensação, como a internet ainda era “tudo mato” e as regras do jogo ainda não estavam consolidadas, havia muito espaço para tentativas, erros, novos formatos de conteúdo, etc.

O fato de não precisar pagar gráfica dava ao blog uma  liberdade inédita, impossível aos jornais que dependiam da Prefeitura e de grandes financiadores para circular. 

Eu costumava furar as “blindagens” armadas na mídia viamonense e dar voz a quem era falsamente acusado e não encontrava espaço para defender-se

Era uma coisa meio “pirata”, uma novidade que pegava os políticos e a imprensa tradicional no contrapé.

Com o tempo eu fui descobrindo a linguagem própria da internet, que estava ainda tomando forma, e me libertei da “caixinha” de só poder fazer jornalismo sério.

Isso rendeu ao blog algumas tiradas surreais.

Por exemplo: todo ano, no dia 1º de Abril, eu escrevia matérias 100% fictícias e absurdas. O engraçado é que parte do público acreditava!

Na barra lateral havia sempre uma capa da revista Playboy do mês dizendo “veja as fotos aqui, de graça“. O link, no entanto, abria uma foto do Sérgio Mallandro anunciando que aquilo era uma pegadinha.

Outra coisa que rendeu muitos acessos foi a criação de uma seção de jogos em Flash (incluindo pornôs) e, mais tarde, de um emulador online de Atari 2600.

Extra! Extra!

Em 2010 eu voltei ao meio impresso. E voltei forte, com a fundação do jornal Sexta

O Sexta era uma maluquice saída da cabeça do meu amigo Daniel Jaeger Marques e funcionava a partir de um “núcleo central” formado por nós dois e por uma dupla de veteranos de um antigo jornal chamado “Quarta-feira”: o ex-secretário municipal da Cultura Hélio Ortiz e o professor Vilson Arruda.

Nossas reuniões eram sempre almoços feitos pelo Hélio que, além de escrever, é um baita masterchef. 

O Sexta logo chamou atenção do público porque trazia matérias bombásticas (nós tínhamos informantes dentro da Prefeitura trazendo sempre as maracutaias e fofocas mais quentes) e tinha um tom meio humorístico, debochado, claramente inspirado no antigo Pasquim.

Era uma doideira.

Nossos colunistas convidados escreviam nas laterais das páginas normais mas nós quatro tínhamos uma página inteira cada um.

A minha, eu ocupava com um mix de conteúdos:

  • Bastidores da política local;
  • Charges quase sempre;
  • Alguma banda de rock, grupo de teatro ou outra iniciativa cultural local;
  • O Quadro da Vergonha, com fotos de buracos de rua ou de brigas na Câmara Municipal;
  • Mais tarde, o Esta Semana na História, que era um quadro de curiosidades.

O auge do Sexta foi 2012, quando o jornal desempenhou um papel decisivo na eleição municipal. Depois ele estagnou e entrou em decadência.

Eu na época já estava concursado e me dedicava ao jornal no meu tempo livre. Por fora, fazia ainda uma renda extra editando e diagramando jornais para outras pessoas também. 

Desse “cabrito” surgiram novos espaços como o jornal “Esperança“, que circulava em Vespasiano Correa e em outras cidades do Vale do Taquari, e o emblemático jornal “Águas Claras do Sul“, com suas capas inspiradas no estilo do jornal Meia Hora.

Artur Gattino, (ex-vereador de Viamão), Alexandre Fávero (vereador de Vespasiano Correa) e eu no Viaduto 13. Nós éramos a “redação” do Esperança.

Duas capas típicas do “Águas Claras do Sul”, um jornal no qual eu tinha liberdade total para criar o projeto gráfico e as manchetes, além de muito poder de decisão na linha editorial. 

E aí chegamos a 2015…

Naquele ano tirei meu blog do ar pois ele estava murchando já há meses, o Sexta parou de circular regularmente e os outros jornais que eu fazia foram também fechando à medida que a publicidade migrava do meio impresso para o eletrônico.

O clima era de final de festa. Chegara a hora de me reinventar.

Youtube

No inicio de 2016 eu criei uma conta no Youtube e comecei a postar vídeos.

Comecei fazendo comédia. Com o tempo, fui explorando outros conteúdos e aprimorando técnicas de apresentação, edição, etc.

Eu cheguei a ter dois canais e segui fazendo novos vídeos até 2022. Não estourei nem me alcei à sonhada fama. Ainda assim, colecionei alguns sucessos na casa dos 25 mil views aqui e ali.

Parte dessa história está na seção de notícias aqui do site.

Já estamos no ar?

Era uma noite qualquer de 2016…

Eu não lembro ao certo a data mas lembro que entramos no ar: eu, o Daniel e o Arruda, fazendo um “programa de TV” ao vivo no Facebook.

Assim nasceu o primeiro podcast da história de Viamão, provavelmente um dos primeiros no RS. 

A fórmula já era a mesma que depois se consolidaria em inúmeros canais no Youtube: uma mesa com microfones, umas pessoas falando, etc.

O nome dessa invenção era “JS Debates“. O JS vinha de Jornal Sexta, o que era meio irônico porque nós íamos ao ar nas segundas-feiras à noite.

Nós comentávamos as notícias recentes, falávamos com convidados, o público participava. Já na primeira transmissão chegamos perto de dois mil espectadores, o que era uma audiência monstra para a web local na época. Nas edições seguintes esse número foi crescendo cada vez mais.

Nossos primeiros cenários eram restaurantes e outros estabelecimentos de patrocinadores mas, depois, optamos por montar um pequeno estúdio.

O primeiro ano do JS Debates foi promissor mas logo surgiram duas dificuldades:

  • Uma onda de imitadores, inclusive com antigas Web Radios migrando para o formato.
  • O nosso próprio desgaste, pois andávamos sobrecarregados na época.

No começo de 2018 eu saí do JS Debates e me mudei para uma emissora rival, a Metropolitana Web. O programa original ainda durou algumas semanas mas a verdade é que não havia mais ânimo.

Nós ainda voltamos ao ar em outubro para acompanhar ao vivo a apuração das eleições em um programa memorável que serviu como uma despedida. 

Minha mudança para a Metropolitana Web foi, na verdade, gradual. Ela começou no final de 2017 com participações em um programa chamado “Zoeira”, apresentado pelo meu amigo Fagner “Fafá” Pesch.

Eu, no fundo, andava cansado de falar de assuntos sérios como política e queria fazer entretenimento, humor, variedades. Precisava de novos ares.

Na Metropolitana, apresentei e participei de inúmeras atrações entre 2018 e início de 2020.

para vocês verem como o mundo dá voltas…

Lá em 2006, quando estava na pior, recém-falido, quase morto, eu vi o Diário de Viamão nascer como uma grande promessa. Ele era o primeiro diário da cidade, com uma redação profissional e gráfica própria. Tentei arrumar trabalho mas fui recusado.

Esse fracasso foi o grande evento de virada, que me fez acreditar que minha vida na comunicação havia acabado, e me levou a fazer concursos. 

Em 2019, o mesmo Diário me chamou para uma entrevista no programa “Sofazinho”, depois que me tornei uma figura conhecida da imprensa local

hoje percebo que o episódio do Diário de Viamão operou uma “virada de chave” na minha cabeça

aquilo espantou alguns fantasmas da minha cabeça e tirou dos meus ombros a “obrigação” de provar algo no cenário viamonense

Ainda em 2019 o Fafá iniciou que sairia da Metropolitana e fundaria sua própria produtora, a Midia+. Eu criei um programa por lá chamado “Papo Reto”, que durou apenas algumas edições. 

Ao mesmo tempo, continuei fazendo participações cada vez mais ocasionais nas atrações da Metropolitana.

O fato é que eu estava cansado daquilo tudo e fui ficando cada vez mais confortável com a ideia de “sair do ar”.

Julho de 2019…

Estreia, na Midia+, o programa Live do Fim do Mundo. A última coisa que fiz na minha “carreira” como jornalista opinador viamonense.

Éramos eu, Fafá, o arquiteto Eduardo Escobar (figura onipresente de Viamão) e, mais tarde, também o jornalista Cristiano Abreu, editor-chefe do Diário de Viamão e meu ex-colega de faculdade.

Era uma espécie de “Manhattan Connection de Viamão”. 

Nós não tínhamos um estúdio. Fazíamos a coisa toda à distância. Isso permitiu que a atração seguisse no ar mesmo após o estouro da pandemia da Covid-19, e mesmo depois que eu me mudei de Viamão no final de 2020.

No começo de 2021 o programa passou a ser transmitido também pela Rádio Clube Parque das Águas.

A Live do Fim do Mundo era um programa que não tinha medo nem vergonha de ser bizarro. Era uma coisa que fazíamos com o espírito leve embora às vezes tratássemos de temas pesados.

Ela foi ao ar todas as semanas até março de 2021. Aí acabou.

Não lembro exatamente o motivo do fim mas lembro que, nas últimas edições, eu estava me arrastando sem vontade alguma.

Fechamento de ciclo

Meu pai sempre me ensinou que a vida é feita de ciclos e que cada um deles eventualmente chega ao fim. Às vezes porque o cenário muda, outras vezes porque nós mudamos, crescemos, queremos fazer coisas novas e diferentes.

Me ensinou também que é preciso saber ver quando um ciclo termina. Quem não sabe reconhecer isso, fica preso a coisas que já não fazem sentido. Fica dançando sozinho, sem música, no meio do salão depois que a festa já acabou.

Eu demorei a admitir o fim do meu ciclo de jornalista. Deveria ter feito isso lá em 2019, talvez até em 2018. O fiz entre 2020 e 2021. 

Deixei para trás uma década e meia de tentativas e experimentações; de busca infrutífera pela fama e pelo “estouro” que me levaria à grande mídia. Coisas que, no final, já me pareciam pouco atrativas. Idiotas até.

Ainda assim, foi um tempo no qual fiz amigos, vivi episódios e vi coisas que uma pessoa mais convencional jamais veria ou viveria.

Talvez tenha valido a pena. Não sei.

O fim da temporada de jornais, podcasts e loucuras juvenis coincidiu com minha chegada à Seção de Comunicação da Receita Federal no RS. 

Segui portanto fazendo comunicação, não mais no papel de jornalista e sim no de assessor de imprensa.

Nessa nova fase encontrei bem mais sucesso do que na anterior. Apresentei programas de rádio, fiz parcerias com a imprensa, criei campanhas, participei da implementação da nova intranet corporativa… 

Até mesmo alguns dos manuais existentes no site do órgão são obra minha.

Ah, e eu finalmente ganhei projeção nacional, ainda que apenas por um tempo, quando criei uns vídeos sobre cidadania fiscal que viralizaram entre contadores e gestores públicos e foram usados em seminários e campanhas pelo Brasil inteiro.

Dizem que até o Nizan Guanaes viu e elogiou. 

Ficou curioso?

Eu criei uma página especifica aqui dentro do site, reunindo minhas criações e realizações como servidor público na Receita Federal.