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    • 05/08/2015 - Videogames
      Executive Suite (1982), um ótimo text-based sobre o lado cinza da ética

      Hoje resolvi levá-los de volta ao mundo empresarial dos anos 1980, em um jogo que casava bem inteligência, auto-paródia e o uso bem bolado dos pouquíssimos recursos disponíveis na época. Um jogo sem gráfico quase nenhum, mas interessante e viciante. Não é coisa só para saudosistas. Vale a pena conferir.


       

      A maioria das pessoas acha que jogo de computador e videogame é sempre alguma coisa com ação, animações e tudo mais. E que text-based é uma coisa do passado, cuja única justificativa era a falta de recursos técnicos. Pura babaquice. Jogos como Katawa Shoujo, no fundo, são aventuras textuais, mas com fotos e musiquinhas associadas.

       

      Então, vamos voltar a 1982, sem perder o foco: este jogo poderia ser refeito hoje. Mas é bom do jeito que está (pena que hoje só rode com o uso do DosBox).

       

      Bom.

       

      Executive Suite foi lançado pela Armonk Corporation, especificamente para o PC da IBM. Usaram o nome-fantasia "Gray Flannel Fun" para assinar o jogo, por razões inimagináveis.

       

      A aventura começa com uma entrevista, na qual o jogador cria nome e um histórico de estudo e trabalho, para um "avatar" que interpretará no jogo. Daí, segue para a entrevista inicial, onde arruma emprego na Mighty Microcomputer Corporation, uma mega-empresa de computadores que é paródia direta da IBM.

       


       

      Se o cara foi relapso no estudo, ele tem como primeiras opções uns servicinhos "cabeludos", tipo separar o correio que chega, ou fazer zeladoria. Se estudou mais, começa melhor. Igualzinho como na vida real. Ou quase.

       

      Daí em diante, o jogo apresenta situações que vão acontecendo no cargo que o sujeito ocupa. Há algumas opções disponíveis, e coisa e tal... e depois de um tempo, o jogador pode se candidatar a outro cargo dentro da empresa. Cada "rodada" dessas equivale a uns 3 ou 4 anos da vida do personagem.

       

      Quando o jogador avança até um cargo bom em um setor, e faz um trabalho medíocre, normalmente as portas daquele setor se fecham para ele, mas surgem cargos mais baixos em outras áreas, e dá para retomar a subida por outro lado.

       

      O histórico do profissional vai moldando uma certa visão que os colegas e a empresa têm dele, e ela ajuda ou atrapalha nas entrevistas de emprego. Às vezes, uma mancada fecha portas importantes, que só serão sentidas bem depois.

       

      O objetivo final do jogo é chegar a Presidente da MMC antes de completar 75 anos de idade, quando vem a aposentadoria compulsória. Além de aposentado, o jogador pode ser demitido, se fizer muita lambança. Chegar à Presidência é bem complicado, especialmente porque, nos cargos perto do topo, as escolhas vão ficando mais nebulosas.

       

      E mesmo chegando às portas de entrar para o posto máximo da companhia, o jogador ainda pode ser barrado por causa de alguma falha de caráter séria que tenha demonstrado anteriormente. Abaixo, a sala da presidência, que conquistei especialmente para escrever este artigo:

       


       

      A presidência, no entanto, só vem no final. Conforme eu ia dizendo, o jogo em si é uma sucessão de escolhas em cenários imaginários.

       

      Algumas das situações apresentadas são dilemas profissionais técnicos, tipo, a empresa tem pressa em lançar um computador novo, e há dificuldades para construir um modelo "mega" de PC, então, o jogador, no cargo de chefe do departamento de desenvolvimento é quem define se vão empurrar o lançamento, seguir com um design funcional, empurrar uma tranqueira para os compradores, etc.

       

      Outras, são dilemas morais. Um vendedor recebe mais comissões que os demais, mas é sobrinho de um chefão. Denunciar? Deixar assim? Falar com o tal chefão?

       

      Este não é um jogo moralista. Por exemplo, vendedores: descobre-se que um deles está lançando como custos de viagem dinheiro gasto na esbórnia, indo a inferninhos com o representante de um grande cliente. Se o jogador tentar se meter a "joãozinho do passo certo", o cliente diminui suas compras e os lucros caem. E a direção da empresa se irrita.

       

      A falta de ética contumaz, no entanto, acaba manchando a imagem do jogador. No fundo, Executive Suite é um jogo sobre a "área cinza" da moral e da ética, nem tanto na luz, nem tanto na escuridão. 

       

      Conforme se chega a cargos de gerência, vão surgindo dilemas envolvendo relação entre empregados, e o jogador, que é o chefe, tem que ir levando com jogo de cintura.

       

      Enfim. É um jogo bem interessante.

       

      E sem hipocrisia: em Executive Suite, há muitos casos nos quais o mérito é de quem sabe conviver com situações antiéticas mas que funcionam, de quem sabe enrolar, etc. Mas tem um aspecto muito positivo, em termos educativos: o jogo recompensa, de forma geral, quem procura ficar fora da politicagem de escritório, e foca no trabalho bem feito. É uma lição que cada vez mais vemos como necessária nos ambientes de trabalho reais.

       

      Executive Suite é um jogo que vale a pena. Sério. É velho, é feio, exige conhecimentos em inglês, mas vale a pena, nem que seja pela curiosidade. E pelo caráter educativo da coisa.