Hoje, revendo velharias na Internet, vi que a primeira blogueira do Brasil, aquela pessoa que criou o primeiro blog de toda essa imensa nação, foi daqui de Viamão, e eu a conheço. É a hoje advogada Viviane Vaz de Menezes, uma figurinha simpática, querida, que conheci por acaso no centro da cidade há algum tempo.
Bom.
Mas todo esse "nariz de cera" foi para introduzir o assunto: os primórdios do jornalismo de Internet em Viamão.
Hoje a cidade tem vários sites de notícias, alimentados de forma profissional e constante, que concentram toda a audiência dos internautas locais e emigrados que vão atrás dos últimos acontecimentos da cidade.
Temos aí o Correio Rural, jornal centenário cujo site, hoje, é mais importante do que o impresso. Temos a versão online do Diário de Viamão. Temos o Viamão Agora, vinculado ao jornal Sexta. Temos o Jornal de Viamão, que foi online antes de ser impresso. Temos o Caderno040 e o Águas Claras do Sul, disputando a zona rural. Temos até uma WebTV local, e algumas WebRadios.
Eu devo ter esquecido gente nessa lista. Mas é basicamente isso. Um mosaico de sites que mantém a população informada.
Mas houve um tempo em que não existia nada disso. Só alguns blogueiros e malucos pioneiros, que experimentavam uma audiência monstruosa pela pura falta de opção do público. Postávamos qualquer texto, e os políticos se apavoravam, a pequena parte da população que estava online ficava alvoroçada. Éramos grande coisa.
O FAROESTE ELETRÔNICO
Eu tinha um blog (hospedado neste mesmo endereço), que era um "hit" de audiência. Trazia matérias em tom jornalístico, e era um dos sites mais acessados da cidade (ao lado dos sites da Prefeitura e da empresa de ônibus, que concentravam público por razões utilitárias).
Dividia espaço no topo da lista do Google para a palavra "Viamão", apenas, com o Viamão Hoje, o primeiro site de notícias local, fundado, desenvolvido e alimentado pelo fotógrafo e ex-funcionário da privatizada RFFSA, Sílvio Monteiro. De inicio, era para ser um site amplo e nacional (o BRRS), que teria uma seção com o nome "Viamão Hoje". Mas esta, previsivelmente, bombou e virou a parte dominante.
Além de nós, havia o Viamão Portal, que tinha uma atualização inconstante, mas foi uma iniciativa corajosa do jovem Marcos Keppler. Nada a ver com o atual Portal Viamão. Era outra coisa. E havia o "Clic Viamão", que era muito mais um guia de bairros. E era isso. O jornalismo virtual centrado em Viamão era isso.
Não admira que as pessoas acessassem, comentassem e debatessem tanto em nossas toscas páginas de antanho.
Haviam iniciativas interessantes, como o "Identidade Viamonense", do arquiteto Eduardo Escobar, ou o blog do professor Vilson Arruda Filho. Mas que não tinham a proposta de ser "jornais virtuais", nem uma atualização diária (ou quase isso).
Naqueles tempos, as reações ao cyber-jornalismo eram interessantes. Entre os políticos e "importantes" da época, havia quem exagerasse o poder dos sites (que ainda era muito menor que o dos impressos, pois quase ninguém tinha conexão), e havia os que os ignoravam completamente, sendo colhidos de surpresa por seu impacto na sociedade.
Ninguém dominava muito bem a fórmula para a Internet. O que se tentava fazer era aproveitar a experiência nos impressos e passá-la para a tela.
PIONEIRISMOS E GAMBIARRAS
A dificuldade técnica para fazer as coisas também era fantástica. Até hoje me lembro de quando o Viamão Hoje lançou um logotipo, que parecia uma bolinha em 3D com as iniciais "VH" gravadas, e todo mundo passou a lançar novos logotipos com bolinhas, tentando emular o efeito.
O designer Paulo Lilja criava coisas lindas, embora naquela época seus sites não fossem dinâmicos e não servissem, portanto, para o noticiário. Mas todo mundo tentava copiá-lo, no campo do desenho. Normalmente sem sucesso.
Em 2006, eu lancei o primeiro site 100% tableless da cidade. Usando CSS, o que hoje é banal, mas na época era novidade.
As animações em Flash proliferavam, e cada um tentava fazer algo mais impressionante do que os outros. Mas jamais se usava Flash para menus importantes porque, naqueles tempos, a maioria esmagadora dos internautas ainda usava conexão discada, com as horrendas linhas de telefone fixo de Viamão.
O DECLÍNIO E A PROFISSIONALIZAÇÃO
Lá pelo final da década, iniciou-se nosso declínio. Os jornais impressos passaram a ver algum sentido em ter também versões online. A popularização das conexões à Internet atraiu investidores e gente graúda para o campinho. Com o surgumento de sites de notícias de formato mais moderno, a audiência rapidamente migrou, ou simplesmente deixou de ver as coisas como antes via.
Os blogs sofreram o primeiro impacto: como eram sempre um "noticiário de fatos comentados", foram sendo cada vez mais vistos como colunas de opinião eletrônicas ao invés de jornais.
Vilson Arruda segue firme com seu blogspot neste papel. Escobar tirou seu time de campo. Eu não posso falar de como e por quê os blogueiros "do antigamente" foram encarando as mudanças da forma como encararam, mas posso falar por mim.
Eu, até que resisti por bastante tempo, mas senti a audiência progressivamente sumindo, embora o velho blog tenha se mantido forte e com importância real, capaz de mobilizar e impactar na vida real da cidade, até mais ou menos 2011. Daí em diante, veio o declínio. A audiência caía lentamente, ajudada pela boa posição nos mecanismos de busca, mas o impacto e a repercussão das matérias não era mais o mesmo. A certa altura, boa parte da minha produção jornalística ia para um site de notícias da nova safra e para o jornal Sexta. Eu competia comigo mesmo. Em 2013, com a constatação de que o blog, como veículo de jornalismo, havia se tornado sem importância, e até por não ter mais tempo nem interesse, fui abandonando o velho formato.
Mas não foram só os blogs que perderam seu papel de "veículo de comunicação" na cidade. Os sites de notícias da primeira safra, normalmente projetos individuais e com muita experimentação, tiveram destino semelhante ao dos dinossauros: a extinção.
O Clic Viamão sumiu. O velho Portal, idem. O Viamão Hoje, pioneiro e precursor do web-jornalismo local, permaneceu forte por alguns anos, até que acabou sobrepujado pela concorrência. Ainda existe, mas não tem nem 10% da repercussão que já teve. Silvio Monteiro, o criador, hoje está na CEEE, e parece mais interessado em sua nova carreira. Silva Leandro, o principal financiador do projeto, ainda parece nutrir algum entusiasmo, mas não muito. Está envolvido com outros projetos.
E é isso.
Queria escrever sobre isso para registrar na memória da cidade esses fatos. Sobre o tempo em que nós, blogueiros, "siteiros" experimentais, comentando a cidade, éramos o noticiário possível na incipiente web local de então. E do nosso declínio com o surgimento de sites jornalísticos com equipes dedicadas e campanhas de divulgação profissionais.
Escrevo, aliás, sem nenhuma ponta de recalque ou tristeza pelo espaço perdido: eu mesmo desenvolvi ou ajudei a desenvolver alguns desses novos veículos. Negar o caminhar da história é pura babaquice.
Essa era "primitiva" da imprensa eletrônica em Viamão, iniciada lá em 1997 pelo BRRS, durou até o final da primeira década deste século. Tudo era difícil, atrasado, esquisito e empolgante. Mas não foi um mar de rosas. Lá, nos primórdios, muita gente, acostumada ao formalismo e à forma demorada da elaboração do jornalismo impresso, achava a web um meio "menos nobre" e nos apontava como "pseudo-jornalistas" espalhando desinformação pela rede, alguns até acreditando que escrevíamos para "ninguém ler". Mas tudo bem. Foi bom enquanto durou, e valeu a pena. A história, provavelmente, nos absolverá.