Existem inúmeros produtores e produtoras de leite na nossa região. Gente que extrai o leite das vacas (e de outros animais), e faz disso seu modo de vida.
Mas Eduardo Canquerini, aqui da parada 84, vai mais longe: ele processa o leite. Pasteuriza e embala em saquinhos, e depois, comercializa no mercado local e em Porto Alegre. Conheça agora a história do Leite Santa Malta.
SERGIÃO DO LEITE
A história começa em 1996, quando um produtor conhecido na região como Sergião do Leite, cansado de vender sua produção a valores baixos para empresas que processam, embalam e revendem o leite, resolveu empreender neste estágio da produção.
Não era uma ideia absurda: o negócio do leite é de baixíssimo rendimento para quem cuida dos animais e tira deles o líquido, e a parte lucrativa está no meio do caminho.
Sergião comprou o maquinário, e passou a processar o tipo de leite mais valorizado – o leite A – que é assim classificado porque sua produção passa por critérios rigorosos: os animais têm que estar saudáveis; um veterinário deve estar sempre presente para garantir isso; o processamento do leite tem que ser próximo à extração, pois ele não pode ser transportado para tal. O resultado é um leite de alta qualidade, e isento de impurezas.
Sergião deu um passo enorme: na época, tornouse o primeiro produtor de Leite A no RS Eduardo entrou no negócio ajudando este empreendedor. Ele vinha atuando em um restaurante, de sua família, e acreditou que a nova ideia poderia dar certo. Largou o negócio familiar e foi dedicar-se ao trabalho com o visionário Sergião.
CRESCIMENTO E APRENDIZADO
A nova indústria deu certo. Logo, estavam vendendo para toda a região, e para clientes de alto grau de exigência, como a rede Zaffari. Eduardo, enquanto isso, foi fazendo cursos e aprendendo sobre o negócio, o processo e tudo mais.
SOB NOVA DIREÇÃO
Tudo corria bem até que, um dia, Sergião recebeu uma ótima oferta por sua propriedade. Tão boa, que aceitou. Estava cansado, depois de passar boa parte de sua vida lidando com leite, e vendeu suas terras. Os animais também foram vendidos, alguns para abate. O que sobrou foi o maquinário de processamento de leite. Que ficou com Eduardo.
Em 2011, Canquerini resolveu retomar a produção de leite pasteurizado e embalado, trazendo de volta o Leite Santa Malta ao mercado.
PRODUÇÃO ATUAL
Hoje em dia, a unidade vem processando e embalando leite vindo basicamente da escola Canadá (a ETA, segundo Eduardo, já teve uma boa produção mas anda em baixa), e de um ruralista amigo da Estância Grande. Eduardo ainda não teve recursos para montar o próprio rebanho, embora tenha a terra, que é da família de sua esposa.
“O negócio tem tudo para dar certo, porque temos condições de chegar a produzir o leite aqui futuramente, e estamos bem na beira da RS040, o que me permite até, depois, montar um ponto comercial, de distribuição. Além do leite pasteurizado e embalado em saquinhos (aproximadamente 10 mil litros por mês), a unidade produz iogurte e queijo (este, em torno de 40kg semanais).
VALOR AGREGADO
O empreendedor fala das motivações que o levaram a montar sua unidade da forma como fez. Ele diz que sempre teve um certo descontentamento com o leite de caixinha, “porque tem conservante, química, ele não exige refrigeração como o de saquinho mas tem muita química para isso”, e resolveu que faria um produto mais puro. “Eu aqui só pasteurizo, o leite passa pelo calor e depois é resfriado, não colocamos substâncias conservantes, por exemplo”, diz.
E ressalta que o leite, assim, mantém os lactobacilos benéficos vivos, resultando em um produto saudável.
DIFICULDADES DO NEGÓCIO
Assim como muitos outros empresários da região, Canquerini reclama da falta de mão de obra qualificada e disposta. “Hoje eu faço aqui o trabalho, meu filho me ajuda, mas é difícil colocar um empregado fixo que produza e tenha comprometimento”, queixa-se. O sistema de inspeção estadual também já deixou a desejar. “Era muito ruim, dava mais medo que o Federal, e não por ser mais rigoroso... é que eles eram contraditórios. Mas de uns tempos para cá mudou e melhorou, deixou um pouco o caráter punitivo e ficou mais instrutivo”.
Outro problema são os distribuidores. Há algum tempo, fez negócio com uma distribuidora, que revendia seu leite, mas no fim, não pagou. “Como somos um negócio ainda pequeno, aquele calote teve um efeito muito grande em nós, demos uma balançada, mas estamos nos recuperando”, conta.