O assunto do momento é a coluna do Paulo Santana, na Zero Hora, elogiando Punta del Este. Dentre os "elogios", ficamos sabendo que é um lugar elitista e que, principalmente, não há nenhum negro. Isso mesmo: podemos curtir um verão sem ver nenhum negro passando por nós na rua. Ah é.
Estão duvidando que isso tenha sido escrito? Pois leiam aqui.
Claro. O colunista depois se justificou dizendo que não achou Punta boa POR NÃO TER NEGROS e sim porque é boa, e descreveu este detalhe curioso do local, de ele não ter negros. Santana é casado com uma mulher negra. Mas é claro que o texto, em si, ia dar polêmica. Isso é visível. Talvez esse tenha sido o objetivo.
Mas quero falar sobre edição de jornais...
Para vocês, pessoas normais, com todos os parafusos na cabeça, que não editam jornais, eu vou explicar como funciona o fechamento de uma edição desses periódicos de papel.
Jornais pequenos têm reportagem, colunistas de opinião, e um único editor, que escolhe o que vai ser impresso e o que não vai. Nos jornais do interior, esse sujeito é normalmente o dono da empresa jornalística.
Nos jornais maiores, a gente tem grupos de reportagem, e os colunistas de áreas específicas, debaixo de um editor setorial, que manda naquilo ali: crime, esportes, política, etc. E acima desses editores medianos, tem o editor-chefe.
Bom. Assim funcionam jornais. Mais ou menos. A grosso modo, é por aí.
Eu já editei muito jornal. Recebemos as colunas dos nossos articulistas e damos uma lida para evitar problemas. Coisa mais feia do mundo é o editor cortar ou reescrever a opinião dos outros. Quando há absurdos cabais, telefona-se para o autor. "Olha, tem coisa ali que não dá, me manda o texto modificando esse tema". E assim segue a vida.
Eu nunca editei a Zero Hora, claro. Eu editei e edito jornaizinhos interioranos com tiragens que são uma fração ínfima daqueles da RBS. Imagino que essa mega-empresa tenha gente muito mais preparada do que eu, e eu não quero aqui dar aulas a quem sabe mais do que eu sei.
Mas... Paulo Santana escreveu bobagem. Estava na cara que seria interpretado como racismo. Eu mesmo não consigo enxergar a coisa de outra forma. Isso, no entanto, não me abisma. Escrever por escrever, falar por falar, eu ouço todo dia. Quem não?
O que me abisma é que foi publicado! Foi publicado!
Saiu em centenas de milhares de exemplares!
Em um dos maiores jornais do Rio Grande do Sul!
Ninguém leu antes? Paulo Santana é tão poderoso que os editores nem o confrontam com as próprias mancadas? Ou é tão detestado que alguém resolveu "deixar passar" só para vê-lo se estrepando?