O mundo comemora os 25 anos da queda do Muro de Berlim. Toda a imprensa e mesmo a historiografia oficiais dão uma explicação simplista para o episódio: o regime socialista da Alemanha Oriental era mau, as pessoas queriam fugir dele, e o governo construiu um muro para conter a passagem por dentro da cidade de Berlim, dividida entre franceses, ingleses, norte-americanos e soviéticos depois de ser tomada pelo Exército Vermelho em 1945.
O Muro foi construído em 1961, no início do governo de Walter Ulbricht, e é preciso entender as razões de quem o ergueu.
DIFERENÇA ENTRE AS ALEMANHAS – A Alemanha Ocidental, capitalista, foi a zona menos afetada pela Segunda Guerra Mundial e sua reestruturação foi encarada como algo crucial no esforço de propaganda da Guerra Fria. Enquanto isso, o lado Oriental, destruído, contava apenas com a ajuda da União Soviética, que havia sido destroçada durante a guerra.
OS OCIDENTAIS TAMBÉM QUERIAM – Hoje parece que o Muro foi uma medida unilateral do lado socialista. E foi. Mas a emigração de milhares de pessoas dos países do Leste todos os anos criava um enorme problema para a Alemanha Ocidental (capitalista), que ganhava contingentes enormes de gente atrás de casa, emprego e oportunidade. Só em 1961, meses antes do Muro, foram 200 mil.
ROUBO DE CONHECIMENTO – Muitos alemães orientais aspiravam atravessar a fronteira para ir ao Ocidente ganhar melhores salários. Mas isso, claro, depois de ganharem educação superior ou técnica gratuita, mantida pela coletividade, no lado socialista, pela qual jamais poderiam pagar em instituições equivalentes, no lado capitalista. Era uma espécie de roubo, de traição ao próprio povo que os havia sustentado e dado estudo.
ESPIONAGEM – O livre trânsito de pessoas pelas fronteiras, especialmente por Berlim, tornava a ação de espiões muito mais simples.
RISCO DE UM ATAQUE SORRATEIRO - Havia ainda o risco de qualquer um dos lados tramar uma ação parecida com a que seria depois usada no Vietnã na Ofensiva do Tet: ir infiltrando gente no território inimigo sob o disfarce de cidadãos comuns, e desencadear repentinamente uma ação de guerrilha de dentro para fora.
TENSÃO INTERNACIONAL – O número assombroso de emigrantes, as informações que eles vazavam, a ação de espiões, e o risco de atentados de ambos os lados aumentavam as tensões internacionais a um nível alarmante. Quando o Muro começou a ser feito, os alemães ocidentais até apelaram para os EUA para que evitasse sua construção. Mas o presidente Kennedy achou melhor não se meter, diante do risco de um bombardeio nuclear por parte da União Soviética.
OS ALEMÃES NÃO MANDAVAM NADA – O episódio deixou claro que nenhum dos governos alemães tinha qualquer poder real sobre o próprio país. O Muro de Berlim foi ideia dos membros do politburo soviético, e o governante alemão oriental atuou como mero executor. Do outro lado, sem respaldo dos EUA, o governo ocidental não teve capacidade para esboçar qualquer reação.