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    • 12/03/2013 - Cinema
      Atividade Paranormal (2007)

      Imaginem um filme que não tem roteiro, tem apenas um cenário, com um elenco horrível. Agora, imaginem que é um filme de terror, mas não assusta nem a sua vovozinha. é algo tão gostoso como um sanduíche de pão com pão. Este é Atividade Paranormal.

      Que porcaria. Esta é a palavra que me vem à mente quando penso neste filme.

       

      Outra palavra: enganação.

       

      Eu na verdade tenho muitas palavras na minha mente que também poderiam definir este filme, mas eu não vou escrevê-las porque, afinal de contas, o meu blog é voltado para um público que tem um certo nível, e ainda pode ser lido por quase toda a família.

       

      Aliás, esse filme também, pode ser assistido por toda a família. "Atividade Paranormal" é um excelente filme infantil para quando as crianças não estão querendo dormir. Coloque o DVD para elas verem e eu garanto que em 10 minutos elas estarão roncando. Eu mesmo, só consegui ver o filme todo porque a Bibi ficou me acordando a cada vez que eu ameaçava apagar de tanta empolgação com a trama bem elaborada e as cenas bem desenvolvidas desta produção.

       

      Pessoas com depressão não devem assistir, porque o tédio pode fazê-las optar pelo suicídio. Pessoas de saúde fraca podem acabar entrando em coma.

       

      Alguns morrem espectadores e se auto-mumificam por causa do poder paralisante deste filme.

       

      Historinha

      Não, meus caros leitores, eu não peguei todas essas imagens da mesma cena. O filme é que parece uma imensa, sonífera e interminável cena malfeita com duração de uma hora e meia.
      O filme é, supostamente, a gravação retirada de uma câmera comprada pelo boçal e aparentemente desocupado Micah. Ele é o namorado da Kate. Bom. Por quê o bonitão comprou a câmera? Porque Kate foi assombrada por fantasmas aos 8 anos de idade e agora, adulta, está voltando a ser atormentada pelas almas penadas.

       

      A tentativa de dar alguma verossimilhança às filmagens da câmera de Micah é, desde o começo, patética. Kate discute porque não quer ser filmada na cama, ou no banheiro, e Micah fica aporrinhando a namorada com o aparelho pela casa.

       

      Daí para a frente, o espectador é exposto a uma incrivelmente longa e tediosa série de filmes caseiros que mostram o casal dormindo. Claro que o tempo é acelerado, para que possamos ver o que acontece lá pelas 3:15 da madrugada: inicialmente, uns barulhos de pancadas pela casa, depois passos, a porta que se mexe sozinha.

       

      Micah resolve espalhar talco pelo chão do corredor e, previsivelmente, o fantasma deixa pegadas. Na cena mais bem elaborada do filme todo (o que não significa que seja boa, apenas a melhor dentro desse lixo), Kate e Micah seguem as pegadas e sobem ao sótão da casa, onde encontram uma foto de Kate, na qual ela aparece ainda criança. Esta foto havia supostamente queimado no incêndio da casa onde ela e sua família moravam na época – e de fato, o fantasma salvou a foto mas não conseguiu impedir que seus cantos ficassem chamuscados.

       

      A cena mais tosca do filme acontece quando Micah encontra na Internet a história de uma menina dos anos 1960 que era atormentada da mesma forma que Kate. A vítima dos tempos da brilhantina chamou um exorcista e acabou morta, como retaliação da entidade demoníaca, que além de matá-la, arrancou a pele do seu rosto. Essa sequencia é um dos maiores atestados de tosquice e maquiagem pobre da História do Cinema. Coisa digna de um Ed Wood da vida.

       

      Micah tenta se comunicar com o fantasma usando um tabuleiro Ouija, que mais parece um tabuleiro do "Jogo da Violência" fabricado pela fictícia Pentagrama Toys (comercial avacalhado do programa Hermes & Renato). Nessa cena do tabuleiro, temos uma das imagens subliminares que tentam criar pânico no espectador. O tabuleiro parece estar manchado, mas olhando cuidadosamente, vemos que os pontos luminosos que ficaram nele formam uma face demoníaca, meio parecido com um Orc da série de games Warcraft.

       

      Tem uma noite na qual Kate levanta-se, sonâmbula, e fica três horas em pé observando Micah enquanto ele dorme. O efeito fast-forward dá um tipo de ar doentio à cena, o que deveria deixar as pessoas impressionadas, mas na verdade acaba lembrando mais aquelas cenas de correria dos filmes do Charlie Chaplin. Mais uma bola fora.

       

      O fantasma vai ficando progressivamente mais agressivo e ousado a cada noite. Até que numa dessas, ele arrasta Kate puxando-a pelos pés, e morde as costas dela. Poderia ter mordido a bunda, que aliás parece ser bem carnuda, o que talvez desse algum apelo erótico ao filme, mas não – o fantasma morde mesmo as costas dela, perdendo a oportunidade de quebrar um pouco o marasmo dessa ladainha interminável.

       

      Depois dessa noite do puxa-pernas, o casal discute a possibilidade de deixar a casa. Mas Kate não quer ir embora. E então, vem a noite na qual Kate levanta-se da cama, sonâmbula, desce as escada e grita. Micah acorda e sai correndo para salvá-la. Em seguida, só se escutam os gritos dos dois.

       

      Na sequencia final, vemos Micah sendo arremessado diretamente para cima da câmera e, em seguida, Kate já possuída pelo demônio, que entra pela porta encarando a câmera. Ela cheira o corpo do namorado e depois dá um pulo atacando, como um animal feroz, na direção do público. Kate tem a cara deformada pela maldade – na verdade, a atriz estava com a cara normal dela, mas usando uma dentadura que parece aquelas dentaduras de vampiro, feitas de plástico, que a gente compra para a crianças no carnaval.

       

      Finais alternativos

      Diz a Wikipedia:

      Na versão original do filme, o final é diferente. Na versão exibida em 2006, Katie sobe as escadas sem Micah e está com uma faca na mão, com a roupa suja do sangue dele. Ela se senta do lado da cama e começa a balançar pra frente e para trás. Quando a polícia chega, já se passou um dia inteiro. Então, a polícia sobe as escadas e quando Katie os vê ela volta a si. Ela corre desesperada na direção da polícia, perguntando por Micah, e os policiais atiram nela.

       

      Talvez esse final alternativo fosse mais legal do que esse que vemos na versão lançada em 2009 no Brasil. Mas tenho certeza de que, por melhor que seja, não conseguiria redimir o filme pela ruindade dos 90 minutos que vieram antes.

       

      No DVD, temos ainda um segundo final alternativo, igual ao do cinema até o momento em que Kate sobe de volta para o quarto com a faca na mão. Só que, ao invés de Kate sentar na cama e esperar a polícia, ela caminha até a câmera, nos dá uma olhada com cara de criança em filmagem de festinha, que fica encarando a lente, e passa a faca no próprio pescoço.

       

      Este final alternativo do DVD não consegue ser menos malfeito do que o final original. Então, eu posso supor que o outro final alternativo, aquele do cinema, deve ser tão lixônico quanto esse e todo o resto do conteúdo desse amontoado de estrume.

       

      Mais um filme "amador"

      É evidente que "Atividade Paranormal" tenta criar um clima impressionante e assustador explorando um assunto que rende bem para este fim: o que acontece quando dormimos? E o que são esses barulhos que a casa faz quando estamos na cama? A receita parece bem elaborada, e os produtores do filme optaram por uma estética de filme amador, como em "A Bruxa de Blair" e "Rec", nos quais o filme que estamos assistindo é apresentado como se fosse a filmagem deixada numa câmera que foi encontrada pela polícia ou por alguém.

       

      As cenas de terror são sutis, e não escatológicas, dando maior verossimilhança à história (ninguém levaria a sério um filme "baseado em fatos reais" que mostrasse cenas dignas de um "O Massacre da Serra Elétrica"). O fantasma movimenta lençóis e portas, criando vento dentro da casa, quando ela está toda fechada. Parece evidente que o público, depois, vai ter dificuldade para dormir porque ficará com medo a cada vento ou barulho que aparece no meio da noite.

       

      Teoricamente, tudo está no lugar certo. Só que na prática, por alguma razão, o conjunto não funciona. O filme é claramente falso desde a primeira cena e não consegue decolar em momento algum.

       

      Começa pelos detalhes da vida do casal. Kate é estudante e Micah opera na Bolsa de Valores. Eles possuem um Porche. Mas a casa deles não parece ser compatível com uma pessoa que possui um carro desses. Eles não têm família e não vemos amigos. Também não vemos em momento algum Micah trabalhando.

       

      Micah é o personagem mais ativo, tentando fazer contato e investigar o fantasma. Kate é uma mocinha do tipo "donzela em perigo", que limita-se a gritar e fazer cara de medinho. Uma figura inverossímil em qualquer filme para adultos filmado depois da década de 1950.

       

      Também tem a questão dos efeitos. O filme não tem nenhum momento de real terror, e recorre às manjadas imagens apavorantes passadas rapidamente, criando mensagens subliminares (uma tendência inaugurada por "O chamado"), que incutem o pânico nos corações do público mesmo que nada aconteça de mais no filme.

       

      Veredicto: direto para a lata de lixo

      Eu não consigo entender o medo que esse filme provoca em algumas pessoas. Ele não é assustador. Ele não é convincente. Ele não é emocionante. Ele não é nada. Os personagens são superficiais, a trama é manjada, os efeitos parecem mágica de circo do interior, e até mesmo as vergonhosas imagens subliminares são fáceis de ver a olho nu. Muito ruim. Se eu tivesse pago ingresso para ver essa josta, eu pediria meu dinheiro de volta.