Os pioneiros da Web em Viamão

A primeira blogueira do Brasil, aquela pessoa que criou o primeiro blog de toda essa imensa nação, é daqui de Viamão e eu a conheço. É a advogada Viviane Vaz de Menezes, uma figurinha simpática, querida, que conheci por acaso no centro da cidade há algum tempo.

O que ela fazia (em 1997) não era jornalismo, nem era local: ela escrevia seu blog em inglês. O que fazia sentido, já que quase ninguém acessava a internet no Brasil.

Um novo encontro fortuito com a Viviane, em 2015, me inspirou a escrever sobre os primórdios do jornalismo virtual em Viamão. A falar sobre como tudo começou, como as coisas foram surgindo. A registrar a memória dos nerds, malucos e aventureiros que começaram isso tudo, quando ainda não existia nada.

Agora, em 2021, eu adicionei uma atualização ao texto.

 

BRRS, o princípio de tudo

A imprensa eletrônica em Viamão começa no final dos anos 90 com o BRRS, um portal de notícias do Rio Grande do Sul e do Brasil desenvolvido e alimentado pelo fotógrafo Sílvio Monteiro, recém demitido no processo de privatização da antiga RFFSA.

A ideia do BRRS era bastante engenhosa: o Sílvio deu ao projeto o nome de “BRRS Sites”, e tinha a ideia de criar páginas com notícias locais de vários lugares diferentes, todas afiliadas ao BRRS. Ele produzia algumas notícias, mas apostava no envio de conteúdo por parceiros que iriam surgir pelo Brasil todo, a alimentar os mini-sites locais.

Se a empreitada tivesse sucesso, o resultado seria uma máquina de fazer dinheiro, com publicidade sendo vendida de forma pulverizada em toda parte. Mas isso nunca aconteceu. Acho que o Sílvio apostou em uma visão genial, mas cedo demais. Acabou que ele tinha, de fato, apenas um site de notícias locais. E não havia leitores conectados, ainda.

Sílvio morava na vila Santa Isabel, em uma casa forrada de TVs e aparelhos antigos, sinal inequívoco do fascínio do cara por eletrônicos e tecnologia.

 

A primeira geração

Na esteira do BRRS, foram surgindo outras vozes locais na internet. Uma delas era a de um jovem chamado Marcus Kepppler, que botou no ar o site “Viamão Portal” que tinha uma atualização inconstante. Outro foi o “Clic Viamão”, que no entanto era mais uma espécie de guia de bairros e não um veículo noticioso.

Eu fiz parte desta geração inicial. Ali pela metade dos anos 2000, eu iniciei um blog que acabaria amealhando um grande número de leitores, estourando de verdade partir de 2008. Era um dos sites mais acessados da cidade.

Eu dividia o topo da lista de resultados do Google para a palavra “Viamão” com o Viamão Hoje.

Este site, carinhosamente chamado de “VH”, era um filhote do BRRS.

Sílvio Monteiro, percebendo que ninguém dava bola para seu projeto de noticiário nacional e que a maior parte de sua audiência concentrava-se em Viamão, resolveu apostar em um portal de notícias locais. 

Eram poucos sites, mas todos tocados com uma dedicação absoluta por seus idealizadores.

Esta era a “cena” inicial da internet em Viamão, com a qual o público se deparou quando as conexões discadas começaram a popularizar de verdade o acesso à web em Viamão. 

Os novos leitores virtuais aproveitavam ao máximo, acessando, comentando e debatendo nas nossas toscas páginas de antanho.

Perto da metade da década, surgiram ainda outras ideias interessantes, hospedadas no blogspot, como o “Identidade Viamonense” do arquiteto Eduardo Escobar, ou o blog do professor Vilson Arruda Filho. Eles não eram, a princípio, noticiários ou opinião sobre fatos da atualidade local. Traziam crônicas, causos e curiosidades do passado da cidade.

E assim desenhou-se o período embrionário do webjornalismo em Viamão, que durou até o final da primeira década do século XXI.

Ainda não havia público para sustentar iniciativas mais ambiciosas. As empresas locais ainda não viam a internet como um meio de divulgação no qual valesse a pena investir pesado. Mas esses sites já começavam a provocar algum efeito na sociedade.

Entre os políticos e “importantes” da época, havia quem temesse o poder dos sites, embora eles ainda tivessem muito menos impacto do que os jornais impressos. E havia os que não davam a mínima importância ao novo meio. Estes últimos acabariam sendo colhidos de surpresa nos anos seguintes.

 

Experimentação e gambiarras

Naquela primeira década, ninguém dominava muito bem a “fórmula” de se fazer internet. Como resultado, quase tudo era muito tosco.

Havia uma tentativa de aplicar a experiência e as técnicas da comunicação impressa, enquanto alguns “interneteiros” locais brincavam com formatos experimentais e tentavam achar sua linguagem.

Tudo era novidade. Até hoje me lembro de quando o Viamão Hoje lançou um logotipo, que parecia uma bolinha em 3D com as iniciais “VH” gravadas, e todo mundo passou a lançar novos logotipos com bolinhas, tentando emular o efeito.

O Viamão Hoje tinha uma seção chamada “TeleVia”, na qual era possível baixar vídeos curtos. Não era um streaming como o Youtube, sendo possível apenas fazer o download dos arquivos para assistir, mas era uma iniciativa bem ousada para aquela época.

Era o máximo imaginável naqueles dias.

O designer Paulo Lilja criava coisas lindas, embora seus sites não fossem dinâmicos e não servissem, portanto, para o noticiário. Mas todo mundo tentava copiar seus desenhos e ideias visuais.

O Lilja mantinha páginas como as das revistas Santa Isabel e Viamão, além de ter depois desenvolvido muitos sites de políticos.

Curioso é que o próprio Viamão Hoje utilizou, por muitos anos, páginas estáticas: o Sílvio tinha um template salvo no DreamWeaver a partir do qual ele criava uma página HTML para cada notícia. E ia adicionando links para essas páginas na capa. Era um trabalho braçal, pesadíssimo, que exigia enorme dedicação.

Com o tempo, foram aparecendo coisas mais sofisticadas, com o uso de ASP e PHP.

Ali por 2005, as animações em Flash começaram a proliferar e cada um tentava fazer algo mais impressionante do que os outros.

Usava-se Flash para fazer logotipos animados, propagandas, tudo – mas jamais para menus importantes porque a maioria esmagadora dos internautas ainda usava conexão discada, com as horrendas linhas de telefone fixo de Viamão.

Em 2006, eu lancei o primeiro site 100% tableless da cidade. O uso de CSS, que hoje é banal, foi encarado como novidade e como uma excentricidade pelo pessoal do meio.

 

Eles passaram, e nós… bem…

Lá nos primórdios eu via uns senhores muito sérios, acostumados ao formalismo e à forma demorada da elaboração do jornalismo impresso, achincalhando o meio virtual.

Fazer internet parecia ser a brincadeira de alguns garotos que não tinham dinheiro para imprimir jornais. E de certa forma, era isso mesmo. Mas havia algo mais.

Nós inicialmente escrevíamos “para ninguém ler”. O acesso à rede ainda era bem restrito a um pequeno percentual da população.

O grande erro dos “tradicionalistas” foi apostar que a internet não teria futuro algum, e que o meio impresso permaneceria seguro.

Eu mesmo ouvi, em várias ocasiões, que “ter um público virtual é como ter um milhão de dólares em dinheiro de mentirinha do Banco Imobiliário”. Só que o tempo passou muito rapidamente e a internet engoliu todos esses ludistas.

Eles passaram. Nós também, eventualmente, passaríamos… mas eles se foram bem antes.

 

O declínio dos pioneiros e a profissionalização

Perto do final da década, os jornais impressos começaram a criar portais na web. Alguns deles tinham redações estruturadas e pequenas equipes para produzir conteúdo.

Com o tempo, esses novos “players” começaram a engolir os sites pioneiros, ainda presos ao velho esquema “um computador e um sujeito que sabe HTML com uma ideia na cabeça”.

A internet deixava de ser uma curiosidade ou uma aposta, e passava a ser um negócio de gente grande.

Os blogs sofreram o primeiro impacto: como eram “noticiários de fatos comentados”, foram sendo cada vez mais vistos como espaços de opinião, não de informação.

Muitos blogueiros foram sendo naturalmente absorvidos como colunistas dos novos portais de notícias que iam surgindo.

Eduardo Escobar tirou seu time de campo. Vilson Arruda seguiu firme com seu blogspot por mais alguns anos, até largar a corda.

Cada um encarou os novos tempos de um jeito.

Não posso falar por todos, mas posso contar minha história.

Meu velho blog manteve-se relevante na cidade até mais ou menos 2011 ou 2012. Daí em diante, entrou em rápido declínio. Tanto que, em 2015, completamente esquecido, o blog saiu do ar dando espaço ao meu site de perfil profissional e livros.

Só que, enquanto meu blog individual murchava, eu ia percebendo a abertura de novos espaços.

Acho que mais gente vivenciou essa época da mesma forma.

O curioso é que não foram só os blogs que perderam seu papel de “veículo de comunicação” na cidade. Os sites de notícias da primeira safra também foram decaindo.

O Clic Viamão sumiu. O velho Portal, tocado pelo Keppler, idem.

O Viamão Hoje, pioneiro e precursor do web-jornalismo local, permaneceu forte por alguns anos, mas em 2015 já não tinha repercussão quase nenhuma. Até que, sem alarde algum, em um dia qualquer de 2016, o endereço “viamaohoje.com.br” passou a ser apenas um redirecionamento para o portal “Garota do Site”.

O Garota do Site era um projeto do contabilista Leandro Rosa da Silva, conhecido como “Silva Leandro”, principal financiador do antigo Viamão Hoje.

A maioria dos sites pioneiros morreu silenciosamente, após cair no esquecimento.

Saíam do ar sem quase ninguém ainda interessado o bastante para lamentar.

O amadorismo, a experimentação – em resumo, o “faroeste” do webjornalismo em Viamão – chegava ao fim.

 

Uma nota sobre o Viamão Hoje

Pensando em retrospecto, acho triste que uma história épica como a do BRRS/VH tenha terminado sem nenhuma repercussão.

O Sílvio era um cara apaixonado e dedicado ao projeto dele. Teve esse papel crucial no começo da história local da internet. E no entanto o trabalho dele corre um risco imenso de ser simplesmente esquecido, como se nunca tivesse existido.

 

O cenário por volta de 2015

O Correio Rural era um jornal fundado em 1912 em Viamão. Em 2015, ele tinha um site que ia, pouco a pouco, ficando mais importante do que o semanário impresso.

O Diário de Viamão, jornal fundado em 2006, tinha uma versão virtual e, já em 2015, ensaiava o abandono da mídia papel. 

O Jornal Sexta, do qual eu fui um dos fundadores, ainda tinha uma boa circulação como jornal de papel, mas possuía um site (então chamado “Viamão Agora”).

Existia também um site chamado “Portal Viamão”, que não tinha relação alguma com o antigo Viamão Portal. Era um espaço bem montado, com atualização constante e um monte de anúncios.

Na zona rural, a população acessava diariamente o “Caderno040” e o “Águas Claras do Sul”, este ligado a um jornal impresso de mesmo nome (do qual eu era o diagramador e um dos editores).

Vale citar ainda as iniciativas do ousado e maluco Mário Dutra, que colocou no ar o “Jornal de Viamão” antes de lançar a versão de papel do mesmo. O Jornal de Viamão cresceu rapidamente na internet e fora dela, chegando a imprimir 20 mil exemplares em uma determinada edição.

O Mário gostava de apostar alto. Chegou a comprar câmeras e montar um estúdio, inaugurando a primeira WebTV local, mas sem muito sucesso. Infelizmente, ainda não existia um número grande o bastante de viamonenses com acesso a uma conexão capaz de receber vídeo para que essa iniciativa vingasse.

Neste aspecto, Mário Dutra e Sílvio Monteiro foram muito semelhantes: tiveram ideias visionárias cedo demais.

 

A era do (web) rádio

Outro fenômeno interessante desta época foram as webradios.

Os primeiros anos da década de 2010 haviam sido marcados por um certo declínio das rádios comunitárias, e elas tentavam contornar a limitação de alcance de suas antenas criando sites nos quais dava para ouvir a programação ao vivo. Eram páginas recheadas de anúncios e com os designs mais bizarros imagináveis, GIFs animados pra todo lado, muito Flash, etc.

O “webradialismo” nunca fez muito sucesso em Viamão.

Na verdade, apenas o radialismo comunitário chegou a alcançar um público considerável em sua “era de ouro”, ali entre 2000 e 2008.

Tínhamos emissoras como a Santa Isabel FM, a Alternativa FM, a Velha Capital FM e a poderosíssima Viamão FM, que operava no nível de uma rádio comercial, com um baita elenco e uma imagem “cool”, descolada e ao mesmo tempo profissional.

Mas foi algo efêmero, uma onda que se armou e morreu na praia.

 

As regras do jogo eram as seguintes…

Durante toda a primeira década e meia da internet em VIamão – e no mundo – o acesso a ela se dava em computadores desktop. As redes sociais iam surgindo, mas não eram a “porta de entrada” da web para a maioria das pessoas.

Os ativos mais importantes de um site de notícias eram o design de suas páginas (na tela do computador, pois não havia smartphones), uma boa colocação nas buscas do Google e um catálogo extenso de endereços de e-mail para envio de newsletters.

Conforme as redes sociais foram entrando no cenário, os veículos de comunicação de Viamão começaram a fazer páginas nelas. Mas não havia conteúdo publicado diretamente nesses espaços: eles serviam apenas para divulgação de links que atraíam o leitor diretamente para os sites.

Era neles, nos sites, que as pessoas navegavam e comentavam.

Os leitores assíduos de um determinado veículo de comunicação tinham o endereço dele salvo na barra de “Favoritos” do navegador. E as pessoas tinham o costume de usar o e-mail – sim, o e-mail – para enviar enviar links de notícias que por algum motivo lhes chamassem a atenção.

 

Dez anos que mudaram o mundo

No começo da década de 2010, havia uma miríade de jornais impressos circulando em Viamão: A Tribuna, Correio Rural, Opinião, Fala Aí, Tri Bom, Águas Claras do Sul, Folha da Terra, Intercidades, Jornal Sexta, O Meio, Jornal de Viamão, e possivelmente mais alguns cujos nomes não me vêm à memória agora.

Em 2020, restavam exatamente dois semanários e um “de vez em quandário”, que sai quando o dono arruma anunciantes. Todos com tiragens ridiculamente pequenas. Todos em seus últimos suspiros.

Foi assim: em dez anos, os jornais impressos foram varridos.

Até mesmo o centenário Correio Rural, circulando desde 1912, chegou ao fim.

Aliás, a morte deste jornal merece um tópico próprio.

 

O fim do Correio Rural

O Correio Rural, como eu havia dito, foi fundado em 1912, por um cara chamado Alecebíades Azeredo dos Santos. Depois de uns anos, passou a ser dirigido pelo filho dele chamado Milcíades. E depois passou para o neto, Milton. No auge da “era dos sites”, o Miltão já estava passando a tocha para o filho Vinícius, que tem mais ou menos a mesma idade que eu.

O Vinícius pegou o jornal justamente quando as receitas de publicidade da imprensa tradicional estavam minguando e ele tentou responder a isso. Mas o Correio Rural, tendo passado por várias gerações da família Santos, pertencia a um monte de herdeiros. 

Então, o Vinícius e o Milton criaram um novo CNPJ e lançaram um jornal semanal chamado simplesmente de “CR”. Era um periódico mais enxuto, com um projeto gráfico mais moderninho – aliás, bem bonito – que trazia os mesmos colunistas e a mesma linha editorial do velho Correio Rural.

O nome “Correio Rural” continuou a circular com periodicidade mensal, como se fosse uma edição especial do “CR”. Seguia uma linha mais tradicional e era um jornalão com um monte de páginas, com uma “pegada” mais próxima daquela de uma revista. Trazia umas reportagens grandes, e tinha um viés mais cultural.

Isso deu uma certa sobrevida à empresa jornalística do clã Santos. Mas imprimir jornais foi ficando inviável. E um dia, as máquinas silenciaram.

A história de mais de cem anos do Correio Rural chegava ao fim.

O velho CR ainda permaneceu, na verdade, “vivo” na internet por algum tempo, mas ninguém dava tanto crédito ao “Correião virtual”. O jornal tinha escrito sua história toda em tinta sobre folhas de papel e um site já não parecia ser a mesma coisa. E assim ele morreu – novamente. Desta vez, pra valer.

 

E então vieram os celulares

Retomando a linha do tempo: eu falava dos sites de notícias que estavam bombando por volta de 2015. O ciclo deles começou a se encerrar com a chegada de mais uma novidade tecnológica.

À medida que a década foi se encaminhando para o final – e especialmente de 2017 em diante – um novo tipo de aparelho foi chegando às mãos do povo: o smartphone.

Daí, tudo mudou.

No telefone, é muito incômodo digitar e abrir endereços em um navegador.

A maioria das pessoas desenvolveu o hábito de abrir, direto, o aplicativo de alguma rede social como o Facebook ou o Twitter e utilizá-la como fonte primária de informação.

Muitos sites de notícias morreram diante do impacto dessas novidades.

Outros, malandramente, passaram a replicar seu conteúdo de forma integral em suas páginas no Face.

Até que, mais adiante, os sites propriamente ditos tornaram-se supérfluos, com tráfego próximo ao zero. E eles foram morrendo.

Isso marcou o fim de mais um ciclo do webjornalismo em Viamão.

Enquanto escrevo em 2021, o Diário de Viamão é o último veículo da “velha guarda” que ainda mantém uma página no ar. Ao lado dela, temos algumas iniciativas novas, como o Bernardes Digital e o Canal Viamão Notícias (lançado pelo mesmo Vinícius Santos, que teve a ingrata missão de ser o último diretor do Correio Rural). E esses sites de notícias lutam para sobreviver, sem jamais alcançar a repercussão das postagens em redes sociais.

Tem um aspecto deste processo que me incomoda muito. Com a morte coletiva e rápida dos portais de primeira e segunda geração, quase tudo o que existia na web viamonense se foi. Toneladas de conteúdo, anos de acontecimentos da cidade, tudo desapareceu.

Portais pujantes e cheios de fotos e textos deram lugar a mensagens de erro: “esta página não pode ser encontrada”.

E com isso, um extenso registro da vida e da história recente da cidade se foi.

Bem, mas o tempo não para. E nos novos cenários, vence quem sabe se adaptar.

 

A explosão das Lives

Quando o Facebook firmou-se como uma rede social praticamente universal, o grande desafio passou a ser dominar seus mecanismos. Logo ficou evidente que a funcionalidade de fazer transmissões ao vivo tinha grande potencial.

Em Viamão, o primeiro programa feito profissionalmente nesta nova tecnologia foi o “JS Debates”, produzido pelo mesmo quarteto que criara o Jornal Sexta: éramos eu, o Daniel “Cabeção” Jaeger Marques, Hélio “Piteco” Ortiz e o já citado (lá no comecinho) Vilson Arruda.

O JS Debates era exibido ao vivo pelo Facebook todas as segundas-feiras, às 20h.

A criação do programa foi uma sacada genial do Daniel, que já tinha alguns equipamentos, como mesa de som, e adquiriu uns microfones. Foi uma aposta maluca, na qual todos apostamos sem pensar duas vezes.

Já na primeira edição, teve algo como 2 mil visualizações em tempo real. Depois, iria atingir números ainda maiores. Recebeu convidados e patrocinadores. E deu origem a outros programas, como o JS Esportes e o Sala de Oposição.

Aquilo funcionava como uma emissora de TV no Face, com uma grade de atrações.

As pessoas passaram a acompanhar a novidade. Cada vez mais gente na cidade pegava seu celular e parava para nos ver nos dias e horários dos diferentes programas.

Assim, disseminou-se uma nova forma de fazer comunicação em Viamão.

Na esteira deste sucesso, outros grupos começaram a fazer transmissões da mesma forma.

Um desses grupos era encabeçado por um sujeito visionário chamado Jefferson Oliveira, professor de educação física, que criou uma grade de programação semelhante à de uma emissora de TV toda voltada às transmissões ao vivo no Facebook e, depois, também no Youtube.

Assim, nasceu a Metropolitana Web.

Ela era, na verdade, uma webradio, que podia ser escutada no próprio site ou por um aplicativo – exatamente como as outras webradios que descrevi lá atrás – mas que também exibia suas atrações em vídeo direto do estúdio.

A “Metrô” acabou acumulando uma legião de fãs que assistem a vários programas, exatamente como fazem os telespectadores da TV tradicional que têm preferência por algum canal específico.

A emissora começou com um estúdio pequenininho, que funcionou por muito tempo em uma sala do polo local da Uninter. Hoje, com o nome de Metropolitana TV, está sediada no TecnoPUC de Viamão e é provavelmente o veículo de comunicação local que tem a maior audiência da cidade.

Indo na mesma linha, surgiram depois novas produtoras de conteúdo apostando na mesma ideia, como a Midia+ Multiplataforma e outras.

A Gazeta FM, uma emissora de rádio comunitária da vila Santa Isabel, também colocou câmeras em seu estúdio e começou a transmitir seus programas de forma “televisiva” no Facebook e no Youtube.

Foi nela que ocorreu, por exemplo, o principal debate das eleições de 2020, entre os candidatos a prefeito de Viamão.

No começo de 2021, muitos produtores começaram a fazer a migração de seu foco para o Youtube.

Esta nova migração tem como causas uma certa evasão de usuários do Facebook, mudanças no algoritmo da rede, e o fato de as pessoas agora terem smartTVs em casa, nas quais o Youtube já vem instalado de fábrica.

 

Uma consideração sobre as pessoas

Quando eu relembro essas histórias, fica evidente que a maioria dos personagens nelas são pessoas criativas, capazes de se reinventarem múltiplas vezes.

Quando uma tecnologia ou uma mudança social enterra uma geração de “interneteiros”, muitos elementos dela acabam emergindo em novos meios e formatos.

Alguns, no entanto, são catapultados para fora do jogo definitivamente. O que me deixa feliz é constatar que, na maior parte dos casos, essas pessoas têm vidas interessantes e aventuram-se com sucesso em outros campos e atividades.

Talvez isso deva-se ao fato de Viamão ser um lugar absolutamente ingrato para se fazer comunicação. Um lugar no qual os indivíduos dispostos a entrar nesta “roubada” são aqueles que têm um espírito mais audacioso e determinado do que a média da população. E isso reflete-se em suas vidas no “mundo real” aí fora.